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Perguntas e respostas sobre a economia digital com o professor de Yale, Vineet Kumar

Por: Darren Hunter

“Economia digital” é uma forma sucinta de descrever a nova ordem econômica das coisas em nossa sociedade de informações. Esse nome surgiu da nova realidade da sociedade – a tecnologia digital e as redes sociais mudaram para sempre o modo como avaliamos e valorizamos mercadorias e serviços.

Nesse novo mundo, o comércio tradicional foi transformado pela capacidade das tecnologias de criar novas rotas para o mercado, resultando em experiências do usuário mais envolventes e satisfatórias. A tecnologia digital está transformando rapidamente os produtos e serviços que usamos atualmente.

Recentemente, eu me encontrei com o Dr. Vineet Kumar – professor de Yale, estrategista digital e destacado líder de ideias inovadoras sobre economia em rede – para saber qual é sua visão sobre o impacto que a tecnologia digital tem no negócio comercial, assim como o impacto resultante da economia digital. Dr. Kumar ministra um curso em Yale sobre estratégia digital, que tem como base uma estrutura que ele desenvolveu sobre criação de valor na economia atual.

Que tendências estão formando a economia digital?

Há alguns exemplos ótimos de como os mercados tradicionais estão sendo transformados em mercados em rede. A economia digital inclui um grau elevadíssimo de sobreposição com a economia em rede. Por que achamos que tudo isso requer um nível especial de atenção? Bem, o fato é que a economia em rede já está impactando drasticamente os negócios tradicionais.

Se você analisar o setor automotivo de cinco anos atrás, que parte do carro era digital? A resposta seria nenhuma. Hoje, cada vez mais achamos que a Google entrou no negócio de carros e a Apple quer construir um carro nos próximos anos. Certamente que durante a próxima década, podemos esperar que existam vários participantes digitais principais no setor automotivo. Esse é apenas um exemplo de setor que está no processo de transformação das tecnologias digitais.

Isso está formando também a automação residencial. Cinco anos atrás, a Honeywell não tinha motivo para se preocupar com a concorrência da Google e Apple quando o assunto eram termostatos, mas agora, ambas estão envolvidas na automação residencial. A Google entrou com a aquisição da “Nest” e a Apple por meio de sua “HomeKit”. Assim, de repente há uma nova tecnologia que habilita digitalmente serviços de configuração residencial, como ajuste de termostatos e acendimento de luzes. Isso é um exemplo da transformação de setor.

Houve transformação digital no mercado inteiro. Vários setores estão sendo conectados ou ligados em rede por tecnologia digital, como nunca vimos antes. De fato, durante a palestra recente de Tim Cook, ele falou sobre como a Apple está desenvolvendo mais ligações com o setor da saúde. Ele discutiu também sobre como a tecnologia digital tem potencial para impactar a pesquisa da medicina e também para transformar a experiência dos pacientes, dessa forma, agregando mais valor a esse setor.

Qual é o papel da Internet das coisas na economia digital?

Eu vejo a Internet das coisas como algo que tem enorme potencial. A questão aqui é como você transforma um dispositivo que vem executando uma função para que comece a coletar vários dados? Imagine os motores a jato. Até cinco anos atrás, eles só tinham sensores que capturavam dados básicos e pouco faziam com esses dados. No entanto, se você olhar para o mesmo produto no futuro, ele vai ser conectado a todos os outros componentes, dentro da própria aeronave, e a outros dispositivos como redes de computadores, até mesmo à Internet. Isso permitirá que o motor tenha um desempenho bem melhor. É um momento realmente interessante para estar nessa área.

Você consegue compartilhar alguns insights da sua pesquisa sobre tecnologia digital e como esses produtos e serviços são entregues agora?

O que eu descobri em minha pesquisa é que as empresas tentam fazer três coisas diferentes na tecnologia digital, portanto, a economia digital é transformadora em três níveis diferentes.

Empresa nativa digital: É aqui que você cria uma proposta de valor onde ela nunca existiu antes, por isso, não há nada parecido. Aqui, eu imagino uma empresa como a Drop Box, que sincroniza e compartilha arquivos e pastas e ajuda você na coordenação de documentos com várias pessoas. Não há nada no mundo físico parecido com esse serviço, ou seja, é uma proposta comercial totalmente nova. Assim, com um produto nativo digital, você pode criar o que está disponível no mundo digital.

Destruidor digital: Ele toma uma proposta de valor que está disponível para o cliente e tenta substituí-la por uma proposta de valor essencialmente digital. Um exemplo seria um agente de viagem que agora foi substituído pela Expedia ou Orbitz. Por isso, você pode criar e entregar toda a proposta de valor digitalmente, o que interromperia a proposta existente do participante atual.

Complementadores digitais: As empresas não ficam estagnadas. Elas estão sempre buscando colaboradores e nos leva a essa terceira categoria. Aqui, os “complementadores” aproveitam a infraestrutura existente das empresas que já existem e tentam criar um negócio que aprimoraria ou complementaria a proposta de valor físico. Isso pode parecer um pouco complicado, mas existem empresas que fazem isso incrivelmente bem.

Um exemplo disso poderia ser a Grub Hub. Os clientes pedem comida aos restaurantes, de casa, para eles buscarem o pedido ou para receberem o pedido em casa. Ou seja, é utilizada a infraestrutura física de negócios existente dos restaurantes. Eles não querem interromper o restaurante, mas querem complementá-lo e agregar valor adicional.

Aliás, um exemplo de empresa que interrompe e também complementa seria a Uber. Eles interrompem as empresas de táxi, mas complementam os motoristas, e a Uber não existiria se não existissem motoristas.

Como as redes sociais se integram à economia digital?

Eu acho que as redes sociais são incrivelmente importantes, e não apenas as redes sociais clássicas, como Facebook e LinkedIn. Você pode também analisar a rede de motoristas e passageiros que a Uber gerou, ou a rede de colaboradores e clientes que uma empresa como a Task Rabbit criou.

A Task Rabbit conecta a clientes, prestadores de serviço e pessoas como encanadores, que podem trabalhar em sua casa. Existem todos os tipos de redes, mas isso é o que chamaríamos de rede “bilateral”, ou seja, além de uma rede social, temos uma rede com dois ou vários lados.

Uma outra forma de imaginar isso é o que a Apple fez com o Apple Pay e uma rede de “três lados”. Isso reuniu bancos que emitem cartões de crédito, consumidores de possuem os cartões de crédito e os comerciantes que aceitam esses cartões. Além disso, eles se certificaram que tinham incentivos adequados para todos os três participantes.

Um outro exemplo de empresa que teve sucesso na economia em rede é a Airbnb, uma empresa que conecta anfitriões e convidados. Aqui, você pode listar seu espaço disponível em mais de 190 países e os convidados podem fazer uma solicitação de reserva.

A Instacart também me vem à memória. Eles oferecem um serviço de entrega de supermercados que conecta lojistas às pessoas que podem ajudá-los com as compras. Faça o pedido em qualquer varejista e alguém fará a entrega para você.

Olhando mais adiante, você prevê alguma surpresa?

Sim, eu acredito que haja muitas surpresas em potencial. É claro que não conhecemos a exata natureza dessas surpresas, mas isso é o que eu sei. Houve muitas inovações recentes na economia digital. E eu acredito que nos próximos cinco a dez anos, o setor B2B dessa economia vai avançar rapidamente. Há um potencial enorme para o crescimento de tecnologia digital. O valor obtido de redes de negócio que podem e vão afetar as empresas pode ser igual ou até superar as iniciativas focadas no consumidor sobre as quais falamos.

Você tem algum conselho em relação à economia digital para os jovens que ingressam no mercado?

Bem, sendo um educador, certamente eu tenho um interesse pessoal nisso. Eu acho que essas tecnologias estão criando muitas oportunidades, mas também muitas ameaças. Eu acredito também que durante a próxima década, os trabalhos do futuro dependerão de uma experiência sólida e conhecimento do comportamento dos clientes de todos esses setores da economia. Os jovens precisarão saber como a tecnologia é desenvolvida e como ela impacta a sociedade e os padrões de consumo.

Conhecer a dinâmica da intersecção da tecnologia e o cliente será uma capacitação cada vez mais valiosa para se ter. Um dos motivos pelo qual eu criei uma turma de MBA avançado sobre estratégia digital é o fato de estarmos falando não apenas de bilhões, mas de trilhões de dólares de potencial na economia de um futuro não muito distante.

Você quer ouvir mais sobre o que o Dr. Vineet Kumar tem a dizer em relação à economia digital? Confira a SAPPHIRE NOW e junte-se à discussão!

Essa história surgiu originalmente em Tendências de negócios da SAP.