Saltos quânticos pela ruptura, dados em novos contextos, concebidos não apenas para a geração Y: a transformação digital afeta a todos. O que ela representa?
Dados são inseridos em novos contextos
É bom armazenar todos os dados internos de uma empresa por toda a eternidade. Com isso, o chefe tem a segurança de que nada será perdido. Melhor ainda é poder elaborar gráficos de barras ou pizza com base na evolução de vendas, principalmente se for possível fazer isso em tempo real. Mas o melhor mesmo é a capacidade de consultar dados externos. Porque, então, até dados meteorológicos podem ajudar a interpretar flutuações nas vendas e alterar ofertas de modo mais preciso. Empresas de energia operam suas turbinas eólicas em capacidade máxima para aproveitar os próximos ventos de outono e retraem a produção solar. Dados externos são a base para novos processos e decisões que, até então, pareciam impossíveis.
Possibilidade de saltos quânticos pela ruptura
Até agora tratamos de modificações de processos disponíveis, mas também existem aplicações muito mais radicais, cuja base não está em nenhuma das estruturas existentes. “O uso agressivo dos dados altera modelos de negócios, torna possíveis novos produtos e serviços, cria novos processos, estimula mais benefícios e estabelece uma nova cultura de gestão”, afirma o professor Walter Brenner da Universidade de St. Gallen em relação ao impacto da tecnologia digital. O pré-requisito é uma utilização inovadora e moderna da tecnologia de informação e comunicação, de preferência com um poder de “ruptura”. Apesar de a destruição das estruturas existentes não ser algo necessariamente intencional, ela acaba ocorrendo como resultado. Enquanto, no passado, as empresas empregavam “apenas” uma nova tecnologia por vez, como o banco de dados SQL, o PC, a SAP e a Internet, hoje existem vários tópicos concomitantes, como a Internet das Coisas, as mídias sociais, o e-business de terceira geração, os tablets e smartphones. Isso transforma qualquer boa ideia (e talvez com um poder de ruptura) em um “salto quântico com aspecto de dados”, conforme Brenner acredita.
O cliente determina a oferta
Há quase sete anos existe um app que permite aos clientes solicitar uma corrida de táxi e pagar por ela on-line. O mytaxi foi lançado com sucesso pela primeira vez em Berlim. Entre suas vantagens estão pagamentos por cartão de crédito, independência dos motoristas de táxi em relação às centrais e nenhuma espera ao telefonar para a central de táxi. A análise dos dados dos usuários também cria novos serviços potenciais para pessoas que solicitam táxis nos mesmos horários. “Modelos bem sucedidos são direcionados para o benefício do cliente”, explica o professor Brenner, “todo o resto é secundário”. A central de táxi privada Uber é ainda mais radical. Ela ignora por completo a indústria do táxi e contrata pessoas que colocam o seu próprio carro à disposição na plataforma como um táxi. O Airbnb disponibiliza uma plataforma que permite aos viajantes se hospedarem em residências em vez de hotéis. Empresas como a Editora Axel Springer também mudam de maneira radical por meio da aquisição de start-ups, do lançamento de uma plataforma de relacionamento on-line ou de um app de desconto para o varejo. Embora o foco de Matthias Döpfner também seja recuperar a rentabilidade de seus jornais e revistas por meio de modalidades de pagamento, o CEO da Axel Springer vai além do conceito tradicional de que uma editora serve apenas para publicações.
A influência da digitalização além da geração Y
Quase todos os setores foram modificados pela digitalização. Os comerciantes não têm outra escolha senão conectar todos os canais de venda: onicanal é a palavra-chave. As montadoras BMW, Mercedes e Audi se juntaram para adquirir o serviço de mapa digital HERE, visando tornar seus serviços de dados o mais atraente possível. Fabricantes de máquinas equipam seus dispositivos com sensores para reduzir o tempo de inatividade e melhorar seus produtos. “Os potenciais ou até mesmo os riscos de cada caso decidem como e de que forma será a abordagem das empresas quanto à digitalização”, explica Walter Brenner, da Universidade de St. Gallen. Os serviços acabarão beneficiando todos os clientes e não apenas a geração Y, que possui um nível de afinidade maior com aplicações digitais. “Pense em automóveis que informam a oficina quando a correia dentada ou os freios devem ser substituídos, ou em assistência de estacionamento, ou até mesmo em estacionamento automático, que atenderá especialmente os idosos”, diz Brenner.
O Chief Digital Officer não é um Leonardo Da Vinci
O caminho para o futuro digital afeta toda a empresa, e não apenas o CEO, o diretor de Marketing ou de TI. E o Chief Digital Officer (CDO) também não, embora ele tenha um papel importante atuando como motivador e impulsionador de modelos digitais. Para o professor Brenner, nomear um responsável pela digitalização dentro do conselho de uma empresa listada na DAX é algo absurdo: “Nesse caso, um gênio como Da Vinci ou Leibniz precisaria ter nascido novamente. Nenhum ser humano pode fazer isso”. De acordo com ele, o tema é de interesse de todos os departamentos e a distribuição de tarefas deve ocorrer como no campo de futebol: “Existe um treinador, os jogadores, e também espectadores, bastante interessados em toda a movimentação”. O CIO não concorre com o CDO, e muito menos ocupa uma posição elevada na transformação digital. Implementar novos bancos de dados, como SAP HANA ou Hadoop, tornar dados de sensores úteis não só tecnicamente, mas também comercialmente: essas são as tarefas futuras do CIO. “Vão existir cargos maravilhosos”, avalia Brenner.