Por: Kai Goerlich
O prognóstico para o sistema global de saúde não está nada bom.
A maioria das indústrias, nos últimos anos, está vendo as despesas diminuírem e a prestação de serviços melhorar com a aplicação de novas tecnologias. No entanto, os custos de saúde continuam a subir, superando os níveis de inflação ao redor do mundo em mais de 6%.
Os gastos com a saúde e cuidados em longo prazo são estimados para quase dobrar até 2050. Os custos de pesquisa e desenvolvimento são exorbitantes: estima-se que custa cerca de US $ 2,6 bilhões para desenvolver um novo medicamento de prescrição. E a maioria dos investimentos é focada em tratamento em vez de prevenção.
A reestruturação do sistema de saúde é uma tarefa difícil.
No entanto, várias grandes tendências estão convergindo, o que poderia transformar a saúde em sua centralidade: acesso a uma abundância de dados genéticos, fenotípicos e clínicos; computação em tempo real e em memória necessárias para análise avançada de dados; e uma população de pacientes mais digitalizada e empoderada.
Apesar da disponibilidade de novos dados e poderosas ferramentas, a tecnologia ainda não transformou a área da saúde da mesma forma que já transformou a indústria de manufatura ou serviços financeiros, por exemplo. A complexidade dos sistemas biológicos e uma compreensão limitada de como eles realmente funcionam e respondem às diversas situações têm sido um grande obstáculo.
O corpo humano, o resultado de bilhões de anos de desenvolvimento, é difícil de compreender e prever. X não conduz necessariamente a Y, e uma doença pode ter vários componentes causais.
A ciência médica está evoluindo rapidamente. Com o aumento da digitalização teremos mais dados do que nunca, bem como as ferramentas necessárias para a análise em tempo real. Contudo, apenas dados por si só não vão curar o que aflige a saúde. Como Sandra Mitchell, uma renomada professora de filosofia da ciência, ressaltou: a humanidade precisa de uma nova abordagem para gerenciar a complexidade do corpo humano.
Devemos desenvolver técnicas para estudar todo o sistema e identificar as causas que não são avaliadas com precisão em isolamento. (Leia Dealing With Complexities In Biology And Medicine: Q&A With Prof. Sandra Mitchell)
Ficando inteligente – e conectado
Indivíduos já estão adotando dispositivos de rastreamento sem fio, como FitBit ou Apple Watch, que lhes permitem coletar informações e agir de acordo com alguns dos seus próprios dados de saúde.
Porém, uma revolução médica digital – capacitada pela conectividade, big data e ferramentas analíticas – vai muito além de simplesmente monitorar se tivemos o total de oito horas de sono na noite anterior ou como estamos nos saindo em relação às metas fitness.
Essas tendências de tecnologia do consumidor oferecem um vislumbre do que é possível quando se empregam sensores para reunir dados em tempo real sobre a máquina complexa e delicada que é o corpo humano, e se entrega essa informação aos profissionais e provedores da área da saúde.
Como a consultoria McKinsey observou recentemente, a ideia de que o compartilhamento de dados entre uma empresa e seus clientes pode reduzir os custos e melhorar a qualidade já foi bem estabelecida em uma ampla gama de indústrias. E poderia ter o mesmo impacto na saúde: aumentar a responsabilização, a produtividade e a qualidade do serviço; melhorar o envolvimento do paciente com seu próprio cuidado; e estimular o crescimento econômico.
As aplicações que utilizam dados recolhidos através de dispositivos GPS e aplicativos móveis que capturam a atividade de pacientes ou seus relatórios podem ter um grande impacto em larga escala. O monitoramento remoto de pacientes em condições crônicas, incluindo doenças cardíacas, asma e diabetes, poderia economizar mais de U$ 200 bilhões, de acordo com um relatório 2015 do Goldman Sachs Global Investment.
Uma divisão da Avery Dennison desenvolveu um dispositivo descartável chamado IH1, que envia dados diretamente do utilizador para um dispositivo de um cuidador.
As aplicações incluem a telemetria cardíaca, rastreamento de padrões de sono, a gestão da doença e monitoramento remoto. As empresas farmacêuticas e de diagnósticos, Roche e Qualcomm, estão em parceria para coletar dados de dispositivos médicos de um paciente (começando com medidores de anticoagulação) e enviá-lo para os seus prestadores de cuidados de saúde a fim de reduzir ambas as complicações e custos. Pesquisadores da Universidade de Illinois desenvolveram um adesivo flexível para a pele que pode monitorar o fluxo de sangue e em breve poderá ter aplicações no interior do corpo.
Tais melhoras de coleta de dados e de capacidade analítica permitem uma abordagem pluralista dos sistemas biológicos, que pode mudar o foco dos cuidados de saúde a partir de tratamento para a prevenção da doença.
No futuro próximo, o foco do sistema de saúde vai mudar de uma abordagem genérica, ineficiente e reativa à entrega, para um modelo proativo e individualizado de gestão da saúde e prevenção de doenças.
Tratando o indivíduo
Enquanto prevenir problemas de saúde for o objetivo, tecnologias avançadas permitirão uma melhor assistência ao paciente, com tratamento mais personalizado.
Farmacogenômicos prometem identificar as fontes de perfil de resposta à droga de um indivíduo para prever o melhor tratamento personalizado. Biomarcadores preditivos e dispositivos médicos conhecidos como diagnósticos de companhia podem combinar pacientes com tratamentos e medicamentos apropriados.
Mecanismos e algoritmos analíticos avançados irão ajudar os médicos a vasculhar terabytes de dados médicos e de pesquisa para adaptar os planos de tratamento em tempo real. Impressoras 3D irão produzir tecidos e órgãos vivos, criar próteses personalizadas e implantes, e auxiliar a investigação farmacêutica. Sistemas robóticos irão auxiliar o diagnóstico, triagem e intervenções cirúrgicas complexas.
Algumas dessas coisas já estão acontecendo. Os cientistas desenvolveram nano “drones” que podem levar as drogas anti-inflamatórias diretamente para as artérias com problema. O US Food and Drug Administration aprovou o primeiro medicamento de prescrição do país feito através de impressão 3D. No verão de 2015, uma mulher com uma doença óssea rara recebeu, com êxito, um implante de crânio impresso em 3D que salvou sua vida. O CRISPR, um método de edição de gene barato e fácil, está sendo utilizado nos laboratórios de todo o mundo
Aceitando a complexidade
A indústria da saúde tem hoje a oportunidade de aproveitar a digitalização para abraçar – e gerir melhor – a complexidade biológica em vez de tentar extirpá-la.
Diversos desafios existem. A indústria deve desapegar-se da taxa de serviço de atendimento e abraçar novos processos centrados nos resultados e controles de consumo. Haverá debates éticos sobre medicina preventiva e cuidados baseados em DNA. Privacidade e segurança serão questões fundamentais; a pirataria torna-se ainda mais ameaçadora no ambiente de saúde, da violação de dados médicos pessoais até a ameaça de invasão em dispositivos médicos.
Entretanto, lidar com essas questões não é uma ciência exata (ou pior – ciência biológica). Outras indústrias têm abordado questões similares de segurança, privacidade e gerenciamento necessários para a transformação digital, e a área da saúde pode seguir o exemplo. Se isso acontecer, essa transformação tem o potencial para não só resolver o problema do aumento dos custos de saúde, mas também para melhorar o acesso aos medicamentos, mudar comportamentos de pacientes e médicos, e alterar o foco do tratamento para a prevenção, poupando recursos – e, em última instância – vidas.
Baixe o resumo: Medicina Digital: Curando Melhor
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