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Bancos mundiais ainda não estão preparados para Basileia II

Segundo um estudo, realizado em Abril e Maio últimos, os desafios subjacentes à implementação do Basileia II permanecem. Este estudo mostra áreas de preocupação e diferenças de carácter regional nos trabalhos de preparação para a nova regulamentação.

LisboaMuitos dos maiores bancos a nível mundial revelaram, segundo um estudo patrocinado pela SAP, Accenture e Mercer Oliver Wyamn, e conduzido pelo Centro de Estudos do Financial Times de Londres, que ainda subsistem os principais desafios na preparação para a implementação do Acordo de Capital Basileia II.

Um número significativo de bancos não está seguro quanto aos recursos financeiros necessários, mostra falta de confiança no que respeita às estruturas de gestão de risco e aos sistemas de alocação de capital, assim como revelou um avanço insuficiente na implementação das ferramentas de medição do risco de crédito necessárias para cumprir a nova regulamentação. Os resultados do estudo indicam que os bancos dos Estados Unidos e da Ásia Pacífico ficaram aquém dos seus congéneres europeus em diversas áreas chave de preparação para o Basileia II.

O estudo, realizado em 97 dos 200 maiores bancos a nível mundial, durante os meses de Abril e Maio do corrente ano, junto dos executivos responsáveis pela conformidade com Basileia II , foi concebido para verificar como os maiores bancos mundiais estão a responder aos desafios do Acordo, mesmo antes das regras definitivas terem sido anunciadas no final de Junho passado. O Acordo de Basileia II actualiza e amplia as regras de 1988, relativas a práticas de gestão de risco, introduzindo uma nova componente de risco operacional.

O estudo torna evidente que:

  • A incerteza quanto ao custo total de conformidade é grande, com cerca de 1/3 dos inquiridos a afirmar que permanecem inseguros relativamente ao custo total do seu programa Basileia II. Dos bancos que partilharam as suas estimativas, a maior parte daqueles que têm activos abaixo dos 100 mil milhões de dólares esperam custos de 50 milhões de dólares ou menos, enquanto cerca de 2/3 dos maiores bancos projectam custos de mais de 50 milhões de dólares.
  • A maioria dos bancos afirmou reconhecer benefícios significativos no Acordo, especialmente na alocação do capital e identificação de capital necessário para compensação de risco.
  • Mais de 70% dos bancos planeiam adoptar as abordagens mais avançadas de Basileia II, tanto no respeitante a risco de crédito como no que diz respeito a risco operacional.
  • As entidades financeiras têm expectativas comuns no que respeita ao aumento da concorrência em empréstimos a particulares e a pequenas e médias empresas (PME), à consolidação entre credores corporativos e especializados e às abordagens mais selectivas para crédito de mercados emergentes.

A preocupação mantém-se
O estudo assinala que muitos bancos ainda têm um trabalho significativo pela frente para satisfazer as exigências de dois dos três principais elementos do Basileia II: o estabelecimento de uma estrutura de supervisão baseada no risco interno e o aumento da disciplina do mercado através de uma maior divulgação da informação. Quase cerca de 2/3 (63%) dos bancos descreve a sua estrutura de gestão de risco interno como fraca ou média. Também mais de 60% dos inquiridos descrevem os seus sistemas de capital económico como fracos ou médios.

O Acordo de Basileia II irá também obrigar os bancos a realizar mudanças importantes nas suas práticas de negócio. Cerca de 90% dos participantes no estudo afirma que a mudança é provável nos seus processos de gestão de risco operacional. Além disso, quase 8 em 10 executivos bancários afirmam que os seus processos de gestão de risco de crédito podem mudar.

"O estudo confirma que um ajuste rápido da base de dados e dos relatórios não irá funcionar", diz Paul Cartwright, um director de gestão da Accenture. "Muitos bancos vêem agora claramente a necessidade de combinar a Tecnologia de Informação (TI) com a mudança organizacional e de processos. Apesar de, nos últimos dois anos, os orçamentos terem sido afectados pela contenção de custos, a nível mundial, os bancos estão a descobrir que estão a enfrentar grandes desafios para a conformidade."

Os resultados do estudo sublinharam ainda outra área de foco para os bancos atingirem a conformidade com as normas de Basileia II: desenvolvimento das ferramentas necessárias para as classificações de crédito internas. Mais de metade dos bancos que têm como objectivo uma abordagem avançada, baseada nas classificações internas (IRB – internal ratings-based) – requerendo directivas rigorosas na classificação de cada exposição de crédito e impacto no custo de capital e da competitividade antes de 2007 – ainda não iniciaram a fase de construir e testar o desenvolvimento das ferramentas de classificação. Mais de 20% destes bancos ainda estão a trabalhar na análise das diferenças, da primeira fase.

Diferenças Regionais
Três quartos dos bancos Europeus concluíram as avaliações das necessidades estratégicas, comparativamente com apenas 12% dos bancos estudados nos Estados Unidos e 22% na Ásia Pacífico. Mais de 60% dos bancos Europeus progrediram para a implementação – comparado com apenas 12% nos Estados Unidos e 15% na Ásia Pacífico.

A análise dos resultados do estudo sugere que esta disparidade no progresso pode, em parte, reflectir uma falta de confiança entre os executivos bancários Americanos no que diz respeito aos seus sistemas actuais de controlo do risco de crédito. Questionados sobre a sua opinião relativamente ao desempenho dos seus modelos de classificação, modelo de validação e cumprimento – os executivos dos Estados Unidos responderam que o resultado destas áreas é positivo, com menos de metade dos índices dos seus congéneres Europeus. As avaliações dos bancos dos Estados Unidos sobre a capacidade relacionada com as outras três ferramentas de risco de crédito também estão significativamente atrasadas.

"Os bancos necessitam de ser mais confiantes na sua avaliação de riscos, que irá ser gradualmente incorporada na rotina diária dos seus negócios", disse Tom Garside, Director-Geral e Vice-Presidente da prática Financeira e de Risco da Mercer Oliver Wyman. "O risco impulsionará a alocação de capital, bem como a tomada de decisão táctica e estratégica. Mas construir os modelos subjacentes de controlo de risco é, quase, e apenas, metade da batalha. Os bancos devem ver mais além das fases de construção dos seus programas Basileia II, assegurando que as iniciativas de "testes de utilização" irão resultar tanto na conformidade com as normas reguladoras como nos benefícios para o negocio".

Custos ainda incertos para muitos bancos
O estudo indicou que se mantém uma incerteza considerável sobre os níveis de custos – 31% dizem não ter uma estimativa de custos para o cumprimento do Basileia II. O nível de incerteza citado pelos inquiridos foi maior nos bancos dos Estados Unidos (59%) e Ásia (54%), mais do dobro da taxa dos bancos europeus (20%).

Entre os bancos que apresentaram estimativas de custos, mais de 90% dos bancos de média dimensão (com activos entre 25 e 100 mil milhões de dólares) esperam que os custos não excedam os 50 milhões de dólares americanos. Contudo, para os bancos maiores (activos de pelo menos 100 mil milhões de dólares), com múltiplas linhas de negócio, as questões complexas de implementação que enfrentam estão reflectidas nos custos esperados. Cerca de dois terços dos grandes bancos que deram estimativas ainda esperam gastar cerca de 50 milhões de dólares, e 30% destes maiores gastadores projectam um custo superior a 100 milhões de dólares.

Muitos bancos estão à procura de meios para baixar os seus custos de conformidade com Basileia II. Enquanto cerca de 60% dos bancos inquiridos planeiam implementar novas soluções, para ir ao encontro das novas exigências de risco operacional, quase metade afirma planear caminhos com menos custos, desenvolvendo soluções internamente ou modificando a tecnologia existente. Além disso, centralizar o armazenamento de dados de crédito está na agenda de 63% dos bancos.

"A maioria dos bancos diz que a gestão de dados permanece como o maior desafio do Basileia II, porque exige a utilização de informação detalhada de toda a empresa", disse Thomas Balgheim, Vice-Presidente dos Serviços Financeiros da SAP AG. "Uma maior centralização é a maneira de melhorar a probabilidade de sucesso do projecto e a redução de custos. 70% dos bancos na América do Norte, Ásia e Austrália procuram soluções de gestão de dados centralizadas, que devem também impulsionar os seus negócios de outras maneiras".

Benefícios justificam o esforço
O estudo descobriu grandes expectativas de que o Basileia II irá afectar significativamente a gestão de créditos. Cerca de metade dos executivos bancários disseram estar com expectativas de expandir os empréstimos, que não estão cobertos por fiança ou hipoteca, a particulares, enquanto 48% projectaram um aumento de hipotecas de particulares e 45% previram mais créditos a PME. Estes resultados sugerem que os devedores destas áreas devem ver os custos reduzidos. Inversamente, os executivos bancários esperam declínios nos empréstimos aos mercados emergentes (15%), especializados (16%) e corporativos (22%) – sugerindo uma consolidação destas áreas, relativamente aos bancos que podem estabelecer melhores preços para estes riscos. Os bancos inquiridos na Europa, Médio Oriente e África esperam que o Basileia II tenha maior influência na fixação do preço das taxas de juro para empréstimos – 58% vêem um impacto significativo comparado com 41% na Ásia Pacífico e somente 7% no Continente Americano.

Os bancos também vêem benefícios de negócio consideráveis a partir da melhor alocação de capital (63%) e da melhor estratégia de preços em função do risco (53%), muito acima daqueles que esperam beneficiar da redução das exigências de regulamentação de capital (37%).

De entre outras conclusões chave do estudo, mais de 80% dos bancos europeus e norte-americanos afirmaram pretender implementar uma das abordagens IRB para risco de crédito antes de 2007. No que respeita ao risco operacional, enquanto menos de metade de todos os bancos estão a apontar a abordagem de medição avançada antes de 2007, 71% espera alcançar esse estado antes de 2010. Os incentivos de custos de capital mais baixos e permanência de competitividade face a outros bancos parecem estar a estimular os bancos a adoptar abordagens mais avançadas.

Metodologia
O estudo foi conduzido pelo Centro de Estudos do Financial Times, sediado em Londres. Uma amostra de aproximadamente 200 instituições bancárias, cotadas a nível mundial, foi dada pelo Centro de Estudos do FT. Esta amostra foi estratificada de acordo com a região (Europa Ocidental, Ásia Pacífico, América do Norte) e a abordagem aos bancos foi efectuada até se ter atingido uma quota representativa de cada região. Depois, os bancos foram categorizados por dimensão (grandes/médios) para assegurar que as respostas eram representativas do universo em estudo. O trabalho de campo deste inquérito foi realizado entre 1 de Abril e 13 de Maio de 2004. O inquérito quantitativo foi conduzido, via telefone, com o responsável executivo pela implementação do Basileia II em cada banco.

Sobre a Accenture
A Accenture é uma organização global na prestação de serviços de consultoria de gestão, tecnologia e outsourcing. Comprometida com a inovação, colabora com os clientes, ajudando-os a optimizar o seu desempenho. Com um profundo conhecimento dos vários sectores de actividade e dos respectivos processos, dispondo de recursos globais e de uma experiência comprovada, a Accenture consegue mobilizar pessoas, competências e tecnologias, com o fim de ajudar os clientes a melhorar a performance dos negócios. Com mais de 90 mil profissionais em 48 países, a empresa gerou receitas no valor de 11,8 mil milhões de dólares, no exercício terminado em 31 de Agosto de 2003. A homepage da Accenture é www.accenture.com.

Sobre a Mercer Oliver Wyman
Mercer Oliver Wyman é líder em serviços financeiros e consultadoria em gestão de risco. A empresa foi formada em Abril de 2003, através da fusão entre a Oliver, Wyman & Company (fundada em 1984) e a estratégia de serviços financeiros e práticas de consultoria actuariais da Mercer Inc, sendo agora uma divisão dentro da Marsh & McLennan Companies, Inc. A empresa emprega actualmente mais de 650 colaboradores que trabalham em 25 escritórios de 12 países, espalhados pela América do Norte, Europa e Ásia. Para mais informações, pesquisar em www.merceroliverwyman.com.