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Resiliência da cadeia de suprimentos em tempos de ruptura: uma visão da América Latina

Por: Juan Cartier

Eu sempre morei na América Latina e, ao longo da minha carreira, passei bastante tempo focando-me em gestão da cadeia de suprimentos. Na minha opinião, o fator mais importante que ajudou as empresas na região a sobreviver à pandemia do coronavírus até agora foi, sem dúvidas, a resiliência da cadeia de suprimentos.

A experiência aqui foi diferente de muitas outras regiões do mundo. Por um lado, a América Latina teve o benefício de ver o vírus chegando de fora. Nós assistimos a propagação pela Europa e Estados Unidos antes de vir para cá – dando-nos um certo tempo para entender o que era, antecipar a reação e preparar os próximos passos.

Por outro lado, a América Latina é composta por muitos países – todos com diferentes respostas à crise. A maioria fechou suas fronteiras – significativamente, se não totalmente -, interrompendo assim as cadeias de suprimentos em plena operação. Em resposta, as empresas tiveram de ser criativas. E o meio para essa criatividade toda tem sido as cadeias de suprimentos resilientes.

Mas o que significa resiliência?

Defino a resiliência da cadeia de suprimentos diretamente como a capacidade dos seus participantes em responder à mudança. Para os varejistas da América Latina, como em outros lugares, tudo começa com o consumidor, por exemplo.

Até agora, não é novidade que as preferências do consumidor mudaram drasticamente em resposta ao Covid. Hoje, o foco está nas mercadorias essenciais: itens como alimentos básicos, desinfetantes e, é claro, vinho. A demanda por itens de luxo caiu vertiginosamente. Os hábitos de compra também mudaram muito – com mudanças drásticas no comércio eletrônico em relação às lojas físicas.

Em resposta, os varejistas precisaram redistribuir seus sortimentos para atender à mudança na demanda do consumidor. Para alguns, isso significa encontrar novas fontes de bens para abastecer suas prateleiras. Também significou focar-se ainda mais nas vendas online. E, quando os varejistas começaram a reabrir suas lojas físicas, precisaram introduzir novos protocolos compatíveis com o Covid e organizar um tráfego mínimo para garantir o distanciamento social.

Quanto aos fabricantes, o fechamento das fronteiras exigiu que eles lutassem para garantir fontes alternativas locais de suprimentos. Em muitos casos, eles tiveram de reprojetar produtos com base nas variações na disponibilidade de matérias-primas. Ao mesmo tempo, eles estão respondendo a novos padrões de demanda. Tudo isso exigiu que os fabricantes executassem constantemente novos cenários e simulações de planejamento para prever melhor os resultados finais para clientes e consumidores.

Os recursos da resiliência

Para empresas de sucesso enfrentando a crise da Covid, vejo que aquelas com capacidade para planejamento de negócios integrado, logística flexível e comércio eletrônico se saíram bem.

A capacidade de fazer simulações rápidas com base em certas premissas ajuda as organizações a construir cenários de planejamento e a tomar decisões sábias. O aspecto “integrado” do planejamento de negócios também é importante. Com o acesso aos principais sistemas de negócios para ERP, por exemplo, os planejadores podem colaborar com mais eficácia com base em uma versão compartilhada da verdade entre as unidades de negócios e os parceiros da cadeia de suprimentos.

Logística e transporte flexíveis foram igualmente críticos. Como os picos de demanda se concentram em certas áreas – como nas zonas urbanas – as empresas precisam reunir recursos de transporte e redirecionar rapidamente as transportadoras para atender à demanda onde ela está. Isso está ajudando as empresas da América Latina a oferecer experiências positivas aos clientes, apesar das interrupções.

À medida que mais e mais empresas na América Latina são forçadas a aderir ao comércio eletrônico, o planejamento de negócios integrado e a logística flexível têm desempenhado um papel importante. O comércio eletrônico requer planejamento e colaboração na cadeia de suprimentos. Os clientes mais exigentes querem visibilidade em cada passo do seu pedido. E embora o volume geralmente aumente nos cenários de comércio eletrônico, a logística se torna mais desafiadora. Em vez de entregar a granel para grandes pontos de venda, agora os fabricantes precisam entregar no “1:1” – levando a mercadoria até a porta do cliente que fez o pedido.

Agilidade em ação

Vi várias empresas intensificando resultados positivos em resposta à pandemia do coronavírus aqui na América Latina. Uma empresa, fabricante de papel higiênico – talvez o símbolo de uma mercadoria em falta – estava nos estágios de planejamento da adição de recursos de comércio eletrônico. Quando a crise chegou, no entanto, esta empresa acelerou o projeto e hoje está totalmente operacional com uma solução de comércio eletrônico. Esse tipo de resposta é parte do motivo pelo qual – em grande parte – os latino-americanos não viram a escassez deste item.

Outro exemplo é uma empresa que produz produtos de cuidados pessoais – como cremes e loções. Normalmente, essa empresa lança novos produtos a cada três semanas – dependendo de uma sofisticada cadeia de suprimentos regional e global para fornecer as matérias-primas que permitem inovar regularmente. Diante da nova realidades na cadeia de suprimentos, essa empresa revisitou rapidamente seus modelos de planejamento, encontrou novas fontes de materiais localmente e reformulou seus novos produtos para acomodar o que estava disponível.

A América Latina tem inúmeras histórias assim. A questão é que a agilidade está no coração da resiliência da cadeia de suprimentos. As empresas, em outras palavras, precisam de cadeias de suprimentos que se desdobrem, mas não quebrem. Essa é pelo menos uma chave para empresas que procuram sobreviver e prosperar na nova realidade do coronavírus.

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